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Confidências de uma tocadora de piano

Música de fundo: tema do filme "O Piano"

segunda-feira, agosto 30, 2004

Festival (continuação)

"És a fracção de uma migalha"
(mensagem de boas vindas do tlm da Isa, logo depois da primeira noite do festival)

Enfim, encontramos muitos cromos naquele festival...
A nível pianístico, tava lá um miúdo que tocava um estudo de chopin mt conhecido com a maior das facilidades e num andamento mesmo rápido... e mais brutal ainda, tocou o primeiro andamento da Sonata Pathetique de Beethoven na master class da Nina Schumann com uma ausência de nervosismo e um à vontade únicos!! O puto tocava akilo tudo no andamento!...

A nível de violino, e isto só pra dizer q tb temos portugueses muito musicais, duas pekenas de 10 e de 12 anos tocaram decor e musicalmente o primeiro andamento do Concerto para dois violinos de Bach no andamento correcto!!! Obviamente que não tocaram akilo como profissionais tocariam, primeiro pq nao têm instrumentos barrocos e segundo porque pôr duas crianças a tocar barroco uma coisa dakelas e com akela extensao tornar-se-ia seco... como tal, estava muito musical e bonito mesmo!...

Nos concertos de gala à noite aconteceu varias vezes os professores acabarem o espectáculo com as crenas do arco cortadas ou com as cordas do instrumento partidas! Eles davam mesmo tudo de si...

Foi mesmo bom akele festival... e ainda hoje dizia para uma pessoa amiga (que comprou recentemente um pedal para a sua guitarra) que estava muito contente por ela ter investido no mundo da música, mesmo sem estudar numa escola de música! Disse-lhe: "As coisas tornam-se muito diferentes quando começas a aperfeiçoar o q tocas.... e a trabalhar com algo mais sério que simplesmente o básico..."

Infelizmente, nem sempre o acto de nos envolver-nos demasiado é positivo, pensei.

De regresso...

Faz hoje um mês que não postava nada aqui...

Engraçado como num mês mudei tanto, a nível de saúde muito melhor, mas ainda não "normal" e a nível psicologico mais receptiva à vida e às memórias que permanecem contra a vontade.

Senti a falta de quem não esperava... e apercebi-me que, por incontáveis noites seguidas, sem me dar conta, não me lembrei de quem mais costumava lembrar, devido ao "tipo" de sentimento... Quando me dei conta, já tinham passado uns 11 dias desde o inicio do festival, aproximava-se o seu fim. O trabalho diário e o cansaço ao anoitecer fizeram-me pensar nas pessoas que mais estiveram cmg e/ou mais me ajudaram nos últimos tempos... pessoas que contaram com a minha ajuda quando precisaram... resumidamente, pessoas que mereciam a sua memória e enaltecimento enquanto eu tocava, mesmo para público no Festival...

Só toquei para público uma única vez (por opção minha). Nesses 10 minutos, o público era pouco mas estava lá Michael Tseitlin (director principal do festival e professor de violino mt conhecido internacionalmente - como os outros professores), Nina Schumann (a professora de piano da Isa), Patrick Dheur (o meu professor no festival), Luís Magalhães (professor de piano também e marido de Nina Schumann), Vera Belozorovich (a minha stora de piano durante o ano lectivo), uma professora do Japão ou algo do tipo (mas não professora dakele festival) 3 ou 4 jovens alunos que iam tocar peças absolutamente irreais humanamente(dakelas coisas que só imaginamos ouvir do computador...) e a família da Isa. Foi algo único... Mas talvez o primeiro momento em que consegui ser com firmeza a figura que a música me pedia e consecutivamente sentir o diálogo com a Isa (que tocava cmg akele concertino) e consequentemente com o público.


Recordo-me muito bem que, antes de entrar no pequeno lugar com dois pianos de cauda, onde eu e a Isa íriamos tocar, eu disse-lhe:

"Isa, entre as hipóteses que me deram, relativamente à minha personagem, eu já escolhi... vou seguir o caminho do pensamento russo nesta peça: o dramático. Sei que conseguirás tocar a tua parte contrastando comigo, e fazendo o céu que todos desejam... Afinal tu és o céu, a abertura para algo bonito, algo mais... eu sou exactamente o contrário..."


...e em breves segundos pensei:

"durante 10 minutos kero sentir que consegui falar sem o limite e o medo habitual... sentir a certeza de que partilharei o que preciso, o que se colou bem dentro de mim, transtornando-me e rejeitando a minha felicidade..."

E disse-o. Senti-o e vivi-o... na música.

Eu fui eu, mais sincera que o meu inconsciente.

Mais viva na música, que se apoderava das partículas do ar e dos ouvidos presentes naquela sala, que propriamente no toque dos meus dedos nas teclas daquele piano de cauda...

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